Grande São Paulo

Vereadora é acusada de racismo em discurso: “mulher branca, bonita e rica incomoda”

Uma sessão tensa na Câmara Municipal de São Paulo, realizada na terça-feira, 29 de abril de 2025, foi marcada por uma grave acusação de racismo contra a vereadora Cris Monteiro (Novo). Durante um discurso em apoio ao projeto de reajuste salarial dos servidores municipais, Monteiro proferiu uma fala que gerou revolta entre sindicalistas e parlamentares presentes. A declaração, que destacou sua identidade como “mulher branca, bonita e rica”, foi interpretada como discriminatória, intensificando o debate sobre racismo estrutural no ambiente político brasileiro.

A controvérsia teve início quando a vereadora, ao ser interrompida por vaias de manifestantes nas galerias, reagiu com uma fala provocativa. “Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (…) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês”, disse Monteiro, dirigindo-se à vereadora Luana Alves (PSOL) e aos presentes. Ela ainda completou sua fala afirmando que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas: “Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve.”

A vereadora Luana Alves, que é negra, imediatamente classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão, alegando que as palavras de Monteiro foram direcionadas a ela de forma intencional. A transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, foi interrompida por alguns minutos devido à confusão, mas retomada em seguida. A declaração de Monteiro gerou gritos de “racista” vindos das galerias, onde servidores protestavam contra o reajuste salarial proposto pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), que previa 5,2% dividido em duas parcelas anuais.

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União Brasil), tentou apaziguar os ânimos ao afirmar que não viu racismo na fala de Monteiro. “Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo”, declarou Teixeira, destacando que a Corregedoria da Câmara acompanharia o caso com imparcialidade: “Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também.” No entanto, a posição de Teixeira foi duramente criticada por parlamentares da oposição, que viram na declaração um exemplo claro de racismo estrutural sendo minimizado.

Luana Alves, por sua vez, não recuou em sua acusação e prometeu levar o caso adiante. “A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara”, afirmou, fazendo referência ao caso do ex-vereador Camilo Cristófaro, cassado em 2022 por falas racistas. Alves e outros vereadores esperam que o desfecho seja semelhante, com punições concretas para Monteiro, a fim de coibir práticas discriminatórias no legislativo municipal.

A sessão também foi marcada por outros episódios de tensão. Os vereadores Rubinho Nunes (União) e Toninho Vespoli (PSOL) protagonizaram um confronto físico quando Nunes tentou arrancar um cartaz das mãos de Vespoli, que reagiu batendo com o papel nas costas do colega. O cartaz trazia a frase “vagabundagem é vereador que quer lacrar na internet”. Fora da Câmara, policiais usaram gás de pimenta contra manifestantes, e ao longo da sessão, professores em greve foram chamados de “vagabundos” por vereadores favoráveis ao projeto. A polêmica envolvendo Cris Monteiro, que já havia se envolvido em um caso de agressão em 2021 contra a então vereadora Janaína Lima, expõe as profundas divisões e desafios éticos na política paulistana.