Grande São Paulo

Revisão põe em risco sobrados históricos do Tatuapé

Construídos na década de 1940, os sobrados históricos enfrentam o avanço da verticalização em SP.

A vila histórica João Migliari, localizada no Tatuapé, zona leste de São Paulo, corre o risco de desaparecer devido a uma revisão de seu tombamento como patrimônio histórico municipal. Originalmente composta por 60 sobrados construídos entre as décadas de 1940 e 1950 pelo empreendedor italiano Raphael Parente, a vila foi projetada como moradia de aluguel para a classe trabalhadora. Hoje, restam apenas cinco sobrados, tombados em 2023 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp), mas um pedido de destombamento ameaça essa proteção.

O processo de revisão teve início em 10 de março de 2025, quando o Conpresp começou a discutir um recurso do proprietário das três vilas tombadas por Parente, incluindo a João Migliari e outras no bairro do Belém. Embora o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) tenha mantido a posição favorável à preservação, aceitou excluir a área envoltória da vila no Tatuapé, alegando que a construção de edifícios e um supermercado nas proximidades tornou inviável a regra de proteção ao entorno. Contudo, a discussão evoluiu para a possibilidade de revogar completamente o tombamento, com o tema adiado para 14 de abril após ser retirado da pauta em 24 de março.

A pressão imobiliária na região, intensificada pelo Plano Diretor de 2014, que incentivou a verticalização próxima a estações de metrô como Tatuapé e Carrão, foi um dos fatores que levaram à demolição de grande parte da vila em 2019. Os cinco sobrados remanescentes são vistos como um raro testemunho da história da urbanização e da vida operária no bairro. Pesquisadores, como o arquiteto Lucas Chiconi, defendem que o tombamento tem valor cultural e histórico, e não se trata de um movimento contra o desenvolvimento, mas de preservar a memória do Tatuapé.

A possibilidade de destombamento gera controvérsia: de um lado, proprietários e setores imobiliários questionam a relevância estética e prática da preservação; de outro, moradores e especialistas argumentam que esses sobrados são únicos no bairro, onde os poucos bens tombados incluem um parque, duas escolas e uma casa bandeirista do século 17. Caso o Conpresp aprove a retirada da proteção, a vila João Migliari pode ser completamente eliminada, cedendo espaço a novos empreendimentos e apagando mais um capítulo da história paulistana.