Arte e Cultura

Primeira Página – Folha de São Paulo: um século de história em capas

Autor: Vinicius Torres Freire (revisor e organizador)
Ano de lançamento: 2021 (9ª edição)
Editora: Publifolha

Imagine segurar um século de história nas mãos, com manchetes que gritam desde a Semana de Arte Moderna de 1922 até a eleição de Dilma Rousseff em 2010. Primeira Página – Folha de São Paulo é um livro que compila 225 capas icônicas do jornal, lançado em sua 9ª edição em 2021 pela Publifolha para celebrar os 100 anos do periódico. Organizado pelo colunista Vinicius Torres Freire, a obra é um mergulho visual e textual nos eventos que moldaram o Brasil e o mundo, com o olhar afiado de um dos maiores jornais da América Latina. É como folhear o diário de um país, com suas glórias, crises e contradições, tudo condensado em páginas que respiram memória.

O livro mostra a evolução do jornalismo como espelho da sociedade. Cada capa é uma cápsula do tempo, refletindo não só os fatos, mas o modo como eles foram contados — e como o Brasil foi se transformando de um país “pré-moderno” para uma nação mais globalizada, como observa Alcino Leite Neto, editor da Publifolha. A obra captura a “desprovincianização” do Brasil, mostrando como o jornal acompanhou mudanças sociais, políticas e culturais. É também uma celebração do papel do jornalismo em filtrar o caos informativo, hierarquizando notícias em um mundo que, já em 2021, lidava com a avalanche digital.

Primeira Página abrange desde a fundação da Folha da Noite em 1921 até os dias mais recentes, com capas que vão da Segunda Guerra Mundial à pandemia de coronavírus. Pela primeira vez, esta edição traz textos e infográficos ao lado das capas, explicando o contexto de cada manchete — uma adição que dá vida às páginas e ajuda o leitor a entender a relevância de cada momento. É uma jornada visual que convida a explorar coluna por coluna, manchete por manchete, ou simplesmente se perder em uma foto marcante, como as que retratam a ditadura militar ou a redemocratização.

2021 marcou o centenário da Folha, e o livro foi uma forma de comemorar essa longevidade em meio a um cenário desafiador para o jornalismo, com a crise das grandes livrarias e a ascensão do digital. A Folha sempre foi pioneira — foi o primeiro jornal brasileiro a oferecer conteúdo em tempo real na internet, em 1995 —, e este livro reflete essa vocação de se reinventar. A edição de 2021, revisada e ampliada, inclui capas inéditas e um novo projeto gráfico assinado por Luciana Facchini Noleto, mostrando o compromisso do jornal com a memória e a inovação.

Vinicius Torres Freire, o responsável por revisar e organizar esta edição, é um jornalista e colunista de peso da própria Folha de S.Paulo. Conhecido por suas análises econômicas e políticas, ele também é autor de biografias de figuras como Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues. Sua escolha para liderar o projeto não foi à toa: Torres Freire trouxe um olhar crítico para a seleção das capas, apontando, por exemplo, a ausência de manchetes sobre a ascensão da China, que ele considera “o fato político e econômico mais importante dos últimos dez anos”. Sua curadoria reflete a busca por um equilíbrio entre o impacto histórico e a relevância contemporânea.

O livro reúne 225 capas, cobrindo o período de 1921 a 2021, um aumento em relação às edições anteriores — a de 2011, por exemplo, tinha 223 capas. Publicado pela Publifolha, selo editorial do Grupo Folha, a obra é um sucesso de vendas, com avaliações altas em plataformas como o Mercado Livre, onde acumula notas como 4.8 de 5. A Folha de S.Paulo, que tem uma das maiores circulações da América Latina, imprime sua marca no livro: em 2010, sua tiragem era de 279 mil exemplares em dias úteis e 329 mil aos domingos, segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC). É um testemunho do alcance do jornal e da relevância do projeto.

A cidade de São Paulo é mais do que um pano de fundo — ela é a alma do livro. A Folha nasceu e cresceu na capital paulista, e muitas capas refletem a vida paulistana, como as que abordam a Revolução Constitucionalista de 1932, um marco na história da cidade. O prédio da redação, na Alameda Barão de Limeira, 425, é mencionado como a sede do jornal desde os anos 1960, e o livro também destaca o Centro Tecnológico Gráfico-Folha, em Tamboré, Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, inaugurado em 1995. São Paulo, com sua efervescência cultural e política, está intrinsecamente ligada à trajetória da Folha e às histórias contadas nas capas.

A primeira edição da Folha da Noite, em 1921, foi lançada por um grupo de jornalistas liderados por Olival Costa e Pedro Cunha, com foco nas classes trabalhadoras de São Paulo, em oposição ao conservador O Estado de S. Paulo. O livro também revela que a Folha enfrentou momentos turbulentos, como em 1971, quando guerrilheiros da luta armada queimaram camionetes do jornal, acusando-o de colaborar com a repressão da ditadura — um episódio que gerou o editorial “Banditismo”, assinado por Octavio Frias. Outra pérola: o personagem Juca Pato, criado por Belmonte em 1925, tornou-se um ícone das páginas da Folha, refletindo o humor e a crítica social que o jornal sempre carregou. Primeira Página é, enfim, um convite para revisitar o passado e entender o presente, com São Paulo e o Brasil como protagonistas.