A Mauricio de Sousa Produções (MSP) emitiu um posicionamento firme contra o uso de inteligência artificial (IA) para replicar o estilo dos quadrinhos da Turma da Mônica, após imagens geradas por IA viralizarem nas redes sociais. A polêmica começou na sexta-feira, 4 de abril de 2025, impulsionada por uma onda de criações que imitavam o traço característico da turminha, seguindo uma tendência semelhante que reproduzia o estilo do Studio Ghibli. Em nota enviada ao Estadão na terça-feira, 8 de abril, a MSP Estúdios reconheceu “o valor da inteligência artificial como ferramenta de experimentação e inovação”, mas enfatizou que “ela deve atuar como apoio, e não substituição, à criação artística”.
A empresa destacou a singularidade do trabalho desenvolvido por seus artistas ao longo de mais de seis décadas, reforçando que o traço da Turma da Mônica vai além de um simples estilo visual. “Quando tenta reproduzir o traço da Turma da Mônica, a IA apenas ecoa, de forma limitada, uma linguagem visual única, construída ao longo de décadas pelos artistas da MSP Estúdios”, afirmou a nota. A MSP também alertou que o uso de elementos relacionados aos personagens é protegido por leis de direito autoral e propriedade intelectual, e que não autoriza conteúdos que violem esses direitos ou promovam discursos de ódio, desinformação ou práticas contrárias aos valores da empresa.
O caso não é novidade para a MSP. Em maio de 2024, o Estadão revelou que Mauricio de Sousa e Henfil tiveram seus trabalhos usados sem permissão para treinar modelos de IA, como o da empresa Midjourney, que listava 16 mil artistas em sua base de dados. Na época, José Alberto Lovetro, conhecido como Jal, assessor de Mauricio e representante da Associação dos Cartunistas do Brasil, informou que o departamento jurídico da MSP analisava o caso, mas aguardava avanços na legislação brasileira, como o Projeto de Lei 2338, que regula direitos autorais no uso de IA e está em tramitação na Câmara dos Deputados. “Não autorizamos a criação de conteúdos que violem esses direitos, nem admitimos associações com discursos de ódio, desinformação ou práticas que contrariem os valores da empresa. Há mais de 60 anos, defendemos a ética e o compromisso com a cultura e agiremos sempre que esses princípios forem desrespeitados”, reiterou a MSP.
A controvérsia ganhou força com tirinhas geradas por IA que associavam os personagens a temas ofensivos, como piadas sobre os ataques de 11 de setembro de 2001 e a morte do rapper Lil Peep, em 2017. Essas criações, longe do espírito educativo e familiar da Turma da Mônica, reforçam a preocupação da MSP com o uso indevido de sua propriedade intelectual. Enquanto a empresa reconhece o potencial da IA como ferramenta criativa, ela defende que a essência de suas histórias – carregada de emoção e humanidade – não pode ser replicada por algoritmos. A MSP promete monitorar o debate e tomar medidas para proteger o legado de Mauricio de Sousa, um ícone cultural brasileiro.
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