O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado faleceu aos 81 anos, nesta sexta-feira (23), em Paris, na França, onde residia. A notícia foi confirmada pelo Instituto Terra, organização não-governamental fundada por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado. Embora a causa da morte não tenha sido oficialmente divulgada, informações apontam que Salgado enfrentava complicações decorrentes de uma malária contraída na década de 1990. Nascido em 1944, em Aimorés, Minas Gerais, ele deixa um legado incomparável na fotografia mundial e na luta pela preservação ambiental, além de sua esposa, Lélia, e dois filhos, Juliano e Rodrigo.
Formado em economia pela Universidade Federal do Espírito Santo, com mestrado pela Universidade de São Paulo e doutorado pela Universidade de Paris, Salgado inicialmente trilhou uma carreira acadêmica e profissional na área econômica. Foi durante uma viagem à África, enquanto trabalhava para a Organização Internacional do Café, que ele descobriu sua paixão pela fotografia. Em 1973, aos quase 30 anos, ele abandonou a economia para se dedicar ao fotojornalismo, iniciando uma trajetória que o levaria a mais de 100 países, documentando a condição humana e as belezas naturais com um olhar único e humanitário.
Salgado é amplamente reconhecido por suas imagens em preto e branco, que capturam tanto a dignidade quanto as adversidades enfrentadas por trabalhadores, refugiados e comunidades indígenas. Um de seus trabalhos mais emblemáticos é a série sobre a mina de ouro de Serra Pelada, no Pará, realizada na década de 1980, que retrata as condições extremas dos garimpeiros em imagens impactantes. Projetos como “Trabalhadores” (1996), “Êxodos” (2000) e “Gênesis” (2013) consolidaram sua reputação como um dos maiores fotógrafos do mundo, unindo estética e reflexão social. “Fotografia é a minha vida, o que penso, acredito, amo. Está tudo dentro dela”, afirmou Salgado em entrevista à CNN em 2022.
Além de sua contribuição à fotografia, Salgado foi um defensor incansável da preservação ambiental. Junto com Lélia, fundou o Instituto Terra em 1998, que transformou uma área degradada de Mata Atlântica em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, com mais de 600 hectares recuperados. “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade”, declarou o Instituto Terra em nota oficial.
Sua obra também ganhou destaque no cinema com o documentário “O Sal da Terra” (2014), codirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, seu filho. A produção, premiada em Cannes e indicada ao Oscar de Melhor Documentário, oferece uma imersão nas viagens e projetos do fotógrafo, destacando sua dedicação a temas como a preservação da natureza e a justiça social. A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro desde 2016, lamentou sua perda, descrevendo-o como uma “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”.
Um de seus últimos grandes projetos foi a exposição “Amazônia”, que esteve em cartaz em São Paulo em 2022, após passar por Paris, Londres e Roma. Com 194 fotografias, a mostra proporcionava uma experiência imersiva na floresta amazônica, acompanhada por uma trilha sonora composta por Jean-Michel Jarre. “A Amazônia me impactou profundamente. É um privilégio. É um espaço com mais de 180 culturas e línguas diferentes. Sem dúvida o espaço amazônico possui a maior concentração cultural do planeta”, disse Salgado à CNN na época. Sua obra e ativismo continuam a inspirar gerações, deixando um legado que transcende a fotografia e reforça a importância de proteger o meio ambiente e a dignidade humana.
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