Política

Deputado paulista cria o site “Janjômetro” e  expõe gastos atribuídos à primeira-dama

O deputado estadual de São Paulo Guto Zacarias, filiado ao União Brasil e integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), lançou em 28 de novembro de 2024 o site “Janjômetro”, uma plataforma que promete monitorar os gastos públicos associados à primeira-dama Janja Lula da Silva. Com o slogan “medindo quanto ela esbanja do seu suor”, o site contabiliza despesas como viagens, eventos e reformas, totalizando, até o momento, mais de R$ 63 milhões. Zacarias justifica a iniciativa como uma resposta à falta de transparência nos custos relacionados às atividades de Janja, especialmente em eventos como o chamado “Janjapalooza”, ligado ao G20 Social.

A plataforma, que exige cadastro com nome, e-mail e telefone para acesso, reúne dados de fontes oficiais, como o Diário Oficial da União (DOU) e o Portal da Transparência, além de reportagens de veículos de comunicação. Segundo o site Poder360, as postagens no “Janjômetro” são sugeridas por leitores e baseadas em notícias publicadas, funcionando como um clipping de monitoramento. Entre os gastos destacados, estão R$ 33,5 milhões atribuídos ao evento “Janjapalooza”, bancado por Itaipu e Petrobras, e R$ 26 milhões em reformas e compras de móveis, conforme reportado pela Revista Oeste. Zacarias afirma que a primeira-dama “insiste em se atribuir uma representatividade que não lhe foi conferida”, criticando a ausência de justificativas técnicas para sua participação em eventos oficiais.

No entanto, a iniciativa tem gerado controvérsias e acusações de distorção. O Estadão aponta que o “Janjômetro” atribui a Janja gastos que, na verdade, são do governo federal, como patrocínios ao G20, reformas de palácios oficiais e despesas de comitivas inteiras. O site também inclui itens questionáveis, como uma gravata comprada por Janja com recursos próprios. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) declarou que “não reconhece quaisquer valores presentes no site ‘Janjômetro’ e que são atribuídos a ela gastos do governo federal”. O UOL Confere classificou o conteúdo como distorcido, alegando que o site usa informações verdadeiras em contextos alterados, o que pode enganar os leitores.

Zacarias, por sua vez, defende a veracidade das informações. Após a publicação de uma reportagem do UOL, ele enviou uma nota afirmando: “Todas as informações disponibilizadas pelo site possuem verificação prévia e checagem de diversas fontes, exceto os gastos cujo próprio governo optou por manter em sigilo e não expor à população.” Ele acrescentou: “Reforçando que, caso o governo federal consiga provar, de forma efetiva, que algum gasto constante no Janjômetro não foi feito com dinheiro público, nossa equipe revisará.” O deputado também relatou ter sofrido ameaças de pessoas ligadas ao governo, incluindo contatos de ministros para retirar o site do ar, conforme publicado na Gazeta do Povo.

A repercussão do “Janjômetro” foi significativa, com mais de 150 mil cadastros em poucos dias, segundo Zacarias, o que causou instabilidades no sistema. Nas redes sociais, ele escreveu: “Recebi ataques de todos os lados e até mesmo de ministros do governo federal entrando em contato comigo para tentar me intimidar.” A plataforma também oferece um grupo no WhatsApp para discussões, criado em 14 de novembro, e permite que usuários sugiram novos gastos. A primeira-dama, segundo o deputado, o bloqueou nas redes sociais, intensificando a tensão em torno do projeto.

O debate levantado pelo “Janjômetro” reflete uma polarização crescente sobre o papel da primeira-dama e o uso de recursos públicos. Enquanto Zacarias e seus apoiadores veem a plataforma como um instrumento de fiscalização, críticos argumentam que ela exagera valores e personaliza despesas governamentais. A Presidência da República criticou o anonimato do site, apesar de Zacarias assumi-lo publicamente, e questionou seus custos de criação. Até o momento, a equipe de Janja não respondeu diretamente aos questionamentos da imprensa, mas o espaço segue aberto para manifestações. A polêmica evidencia os desafios de equilibrar transparência e precisão na divulgação de informações públicas.