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Ícone da MPB, Nana Caymmi falece aos 84 anos

Na quinta-feira, 1º de maio de 2025, o Brasil perdeu uma de suas vozes mais marcantes: Nana Caymmi, que faleceu aos 84 anos no Rio de Janeiro. A cantora estava internada há nove meses na Casa de Saúde São José, na Zona Sul da cidade, após passar por procedimentos como cateterismo e implante de marcapasso. Segundo a instituição, a causa da morte foi disfunção de múltiplos órgãos. A primogênita de Dorival Caymmi e Stella Maris, nascida Dinahir Tostes Caymmi em 29 de abril de 1941, deixou um legado de mais de seis décadas na música brasileira, com uma carreira que atravessou gêneros como bossa nova, samba, bolero e MPB.

Nana Caymmi começou sua trajetória artística ainda jovem, aos 19 anos, com a gravação de “Acalanto”, uma canção composta por seu pai, Dorival, em sua homenagem. Em 1960, lançou seu primeiro disco solo, marcando o início de uma carreira que se destacaria pela voz grave, emotiva e pela escolha cuidadosa de repertório. Ao longo dos anos, interpretou obras de grandes nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Milton Nascimento, consolidando-se como uma das maiores intérpretes da música brasileira. Em 1966, venceu a fase nacional do I Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, com a canção “Saveiros”, composta por seu irmão Dori Caymmi e Nelson Motta.

A cantora também marcou presença em momentos históricos da música brasileira. Em 1967, ao lado de Gilberto Gil, então seu marido, apresentou a composição “Bom dia” no Festival de Música Brasileira, exibido pela TV Record. O casamento com Gil durou até 1969, mas a parceria musical deixou marcas. Outra conquista significativa veio em 1998, quando Nana recebeu um Disco de Ouro pela canção “Resposta ao Tempo”, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, tema de abertura da minissérie “Hilda Furacão”, da TV Globo. A música, com sua letra introspectiva e sua interpretação visceral, tornou-se um dos maiores sucessos de sua carreira.

Nos últimos anos, a saúde de Nana enfrentou desafios. Desde 2016, após uma cirurgia para retirada de um tumor cancerígeno no estômago, ela se afastou dos palcos, mas continuou a gravar. Seus últimos trabalhos incluem os álbuns “Nana Caymmi Canta Tito Madi” (2019) e “Nana, Tom, Vinicius” (2020), ambos indicados ao Grammy Latino. Em 2024, ela participou de uma gravação na sua casa, ao lado de Renato Braz, para o disco “Canário do Reino”, em homenagem a Tim Maia. Apesar das internações frequentes, Nana manteve sua lucidez, como relatou seu irmão Danilo Caymmi: “O que acontece são pequenos defeitos, e tudo em consequência da obesidade. Mas está lúcida, está tudo certo. Por conta do peso, ela passou por uma osteomielite que agora já está curada.”

A longa internação de Nana, que durou nove meses, foi marcada por complicações. Danilo Caymmi, em um vídeo postado nas redes sociais, descreveu o período como “um processo muito doloroso, várias comorbidades”. Ele afirmou: “É com muito pesar que eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, muito chocados e tristes na família, mas ela também passou nove meses de sofrimento em hospital, UTI. O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu.” A causa exata da morte incluiu uma overdose de opioides, conforme relatado por Danilo, embora detalhes adicionais não tenham sido divulgados.

O velório de Nana Caymmi está marcado para sexta-feira, 2 de maio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com o enterro previsto para as 14h no Cemitério São João Batista, na Zona Sul. A cantora deixa três filhos – Stella Teresa, Denise Maria e João Gilberto – e duas netas. Sua partida foi lamentada por artistas e fãs, que destacaram a emoção única de suas interpretações. Como escreveu o crítico musical Mauro Ferreira, Nana “encara o peso e a dramaticidade das músicas em que põe a voz lapidada com o tempo”, deixando um vazio na MPB, mas um legado que ecoará por gerações.