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Miriam Leitão assume cadeira de Cacá Diegues na Academia Brasileira de Letras

Na noite de terça-feira, 29 de abril de 2025, a jornalista e escritora Miriam Leitão foi eleita para ocupar a cadeira número 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, sucedendo o cineasta Cacá Diegues, que faleceu em 14 de outubro de 2024. A eleição, que ocorreu em uma sessão híbrida com 19 votos presenciais e 14 remotos, deu a vitória a Leitão com 23 votos, superando outros candidatos como a escritora Ana Maria Machado, que recebeu 9 votos, e o cineasta Luiz Carlos Barreto, com apenas 1 voto.

Miriam Leitão, de 72 anos, é uma das jornalistas mais respeitadas do Brasil, conhecida por sua atuação como comentarista econômica na GloboNews e colunista do jornal O Globo. Natural de Caratinga, Minas Gerais, ela também se destacou como escritora, com obras que mesclam história, memória e ficção. Entre seus livros estão A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos (2013), História do Futuro (2015) e Convém Sonhar (2010), este último uma coletânea de crônicas que reflete sua sensibilidade literária. Sua eleição para a ABL marca o reconhecimento de sua contribuição tanto ao jornalismo quanto à literatura brasileira.

A cadeira 30, agora ocupada por Leitão, tem uma linhagem histórica significativa. Seu primeiro ocupante foi o médico e escritor maranhense Eduardo Ramos, que a assumiu em 1897. Entre os sucessores estão o crítico Sílvio Romero, o diplomata Graça Aranha e o próprio Cacá Diegues, que ingressou na ABL em 2019 e deixou um legado marcante no cinema brasileiro. O patrono da cadeira é João de Barros, um dos primeiros cronistas portugueses, conhecido por sua obra Décadas da Ásia. A escolha de Leitão para essa posição reflete a valorização da diversidade de vozes na Academia.

A eleição de Miriam Leitão foi celebrada por seus pares, que destacaram sua trajetória e compromisso com a verdade. O presidente da ABL, Merval Pereira, elogiou a nova imortal: “Miriam Leitão é uma das vozes mais importantes do jornalismo brasileiro, uma mulher que enfrentou adversidades e transformou suas experiências em literatura e análise profunda.” Ele também ressaltou a relevância de sua obra para o debate público: “Seus livros e colunas são um testemunho da força da palavra escrita em defesa da democracia e da justiça social.”

Leitão enfrentou desafios significativos ao longo de sua carreira, incluindo episódios de violência durante a ditadura militar. Aos 19 anos, enquanto estudante de jornalismo e grávida, ela foi presa e torturada por agentes do regime, uma experiência que marcou sua vida e obra. Em 2019, sua participação na Feira do Livro de Jaraguá do Sul foi cancelada após pressões de grupos conservadores, o que gerou um manifesto de apoio assinado por 4 mil pessoas, incluindo os então acadêmicos da ABL Milton Hatoum e Rosiska Darcy de Oliveira. Esses episódios reforçam sua resiliência e compromisso com a liberdade de expressão.

A posse de Miriam Leitão na ABL está marcada para 20 de junho de 2025, em uma cerimônia que promete ser um marco para a instituição. Sua entrada na Academia é vista como um passo para ampliar a representatividade feminina e jornalística entre os imortais, seguindo os passos de figuras como Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles. Com uma carreira que une rigor analítico e sensibilidade literária, Leitão traz para a ABL uma perspectiva única, conectando o jornalismo à literatura e reafirmando o poder da palavra em tempos de transformação social.

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