Arte e Cultura

7 Prisioneiros: um grito contra a escravidão moderna

Ano de lançamento: 2021
Elenco: Christian Malheiros, Rodrigo Santoro, Bruno Rocha, Vitor Julian, Lucas Oranmian
Produtor: Fernando Meirelles, Ramin Bahrani, Andrea Barata Ribeiro
Diretor: Alexandre Moratto
Empresa responsável: O2 Filmes, Noruz Films
País de origem: Brasil

“7 Prisioneiros”, lançado em 2021, é um drama brasileiro que expõe as entranhas do trabalho análogo à escravidão no Brasil contemporâneo. Dirigido por Alexandre Moratto e produzido por Fernando Meirelles e Ramin Bahrani, o filme é uma parceria entre a O2 Filmes e a Noruz Films, com distribuição pela Netflix. O elenco traz Christian Malheiros no papel principal, ao lado de Rodrigo Santoro, que interpreta um vilão complexo, além de outros jovens atores como Bruno Rocha e Vitor Julian. A obra, que estreou no Festival de Veneza, rapidamente se destacou por sua abordagem crua e necessária sobre uma realidade muitas vezes ignorada.

O enredo acompanha Mateus, um jovem de 18 anos do interior do Brasil, que deixa sua família em busca de uma vida melhor em São Paulo. Ele aceita um trabalho em um ferro-velho, mas logo percebe que caiu em uma armadilha: junto com outros garotos, Mateus é submetido a um sistema de trabalho escravo comandado por Luca, um capataz implacável interpretado por Santoro. Preso e ameaçado, ele enfrenta um dilema moral devastador: colaborar com o sistema que o oprime para sobreviver ou arriscar tudo — inclusive a segurança de sua família — para buscar a liberdade. A narrativa é um soco no estômago, mostrando como a esperança de uma vida melhor pode se transformar em um pesadelo.

O tema central de “7 Prisioneiros” é a exploração humana e a perpetuação da escravidão moderna em um mundo que, teoricamente, deveria ter superado tais práticas. O filme denuncia um sistema que se alimenta da vulnerabilidade de jovens pobres, explorando sua falta de opções e usando ameaças contra suas famílias como ferramenta de controle. Além disso, a obra questiona as estruturas de poder que permitem que essa violência persista, incluindo a conivência de autoridades corruptas, e provoca uma reflexão sobre os limites éticos que alguém pode cruzar para sobreviver em um ambiente opressivo.

A direção de Moratto é precisa, utilizando uma fotografia sombria e enquadramentos fechados para transmitir a sensação de aprisionamento dos personagens. As atuações são um ponto alto: Christian Malheiros entrega uma performance visceral como Mateus, capturando sua transformação de um jovem esperançoso a alguém endurecido pelas circunstâncias, enquanto Rodrigo Santoro constrói um Luca que, apesar de cruel, revela camadas de humanidade, mostrando que ele também é um produto do mesmo sistema que perpetua. O roteiro, escrito por Moratto e Thayná Mantesso, é afiado, equilibrando tensão e momentos de introspecção sem cair em clichês.

Um dos aspectos mais intrigantes do filme é sua abordagem à ambiguidade moral. Mateus, inicialmente uma vítima, começa a adotar comportamentos de Luca para ganhar privilégios, o que levanta questões desconfortáveis: até que ponto a necessidade de sobrevivência justifica a participação em um sistema de opressão? Essa dualidade é reforçada pelo uso de nomes bíblicos para os personagens, uma escolha intencional de Moratto para simbolizar a natureza cíclica e ancestral da escravidão, que remonta a tempos imemoriais e continua a assombrar a sociedade moderna.

“7 Prisioneiros” foi inspirado por uma reportagem que Moratto assistiu sobre tráfico humano em São Paulo, o que o levou a realizar uma extensa pesquisa com sobreviventes para garantir autenticidade. O filme contou com a participação de um imigrante real, chamado Josep, que havia sido vítima de trabalho escravo no Brasil e compartilhou sua história com o elenco, impactando profundamente a produção. Além disso, a obra foi aclamada internacionalmente, recebendo cinco minutos de aplausos no Festival de Veneza e dois prêmios paralelos, além de ser o segundo filme em língua não inglesa mais assistido na Netflix em sua semana de estreia, com quase 10 milhões de horas assistidas.

A produção também teve momentos marcantes nos bastidores. As filmagens, realizadas em 32 dias em locações reais de São Paulo, incluíram a participação de Fernando Meirelles, que deu feedbacks cruciais durante o desenvolvimento do roteiro e até no set, onde o final do filme foi decidido no último momento. Outro detalhe interessante é que Rodrigo Santoro se dublou nas versões em inglês e espanhol do filme, garantindo que a intensidade de sua interpretação fosse preservada. A trilha sonora, composta por Felipe Puperi e Tiago Abrahão, é minimalista, mas eficaz, intensificando a atmosfera de tensão que permeia a narrativa.

“7 Prisioneiros” é, em essência, um chamado à reflexão sobre as injustiças que ainda moldam o mundo. Com uma narrativa poderosa e atuações marcantes, o filme não apenas expõe os horrores do trabalho escravo, mas também desafia o espectador a pensar sobre as estruturas que sustentam essa realidade e o que significa, de fato, ser livre. É uma obra que, apesar de sua dureza, é essencial para entender as desigualdades do Brasil e do mundo, consolidando Alexandre Moratto como uma voz importante no cinema social contemporâneo.