Política

Réu no STF, Bolsonaro faz pronunciamento marcado por emoção

Bolsonaro réu: o início de um julgamento histórico.

Após se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por unanimidade na Primeira Turma, em 26 de março de 2025, acusado de tentativa de golpe de Estado e outros crimes relacionados às eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um pronunciamento de cerca de 40 minutos em frente ao Senado, em Brasília. A fala, dirigida a jornalistas mas sem abertura para perguntas, foi marcada por ataques ao STF, ao ministro Alexandre de Moraes, ao sistema eleitoral brasileiro e por repetidas alegações de perseguição política. Bolsonaro negou envolvimento em qualquer tentativa de golpe, classificando as acusações como “graves e infundadas”, e sugeriu que a decisão judicial teria motivações pessoais contra ele.

Durante o discurso, Bolsonaro reciclou narrativas já conhecidas de seus apoiadores, como a suposta falta de confiabilidade das urnas eletrônicas – uma afirmação desmentida reiteradamente por especialistas e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele também criticou a inelegibilidade imposta pelo TSE em 2023, decorrente de abuso de poder político na reunião com embaixadores em 2022, e comparou seu caso ao de figuras condenadas pelos atos de 8 de janeiro, como Débora Rodrigues, questionando a proporcionalidade das penas. “Por que 14 anos para Débora? Por que querem 30 anos para mim?”, indagou, em uma tentativa de sensibilizar sua base ao retratar-se como vítima de um sistema judicial injusto.

O ex-presidente ainda defendeu que discutiu apenas “hipóteses constitucionais” com militares, negando qualquer conspiração golpista, e afirmou ter trabalhado pela transição pacífica ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva após a derrota eleitoral. No entanto, investigações da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam que Bolsonaro tinha conhecimento de minutas golpistas e participou de reuniões que visavam impedir a posse de Lula, o que contradiz sua versão. Acompanhado de aliados como a deputada Caroline de Toni e o senador Flávio Bolsonaro, ele usou o pronunciamento para reforçar a narrativa de que é alvo de “criatividade de alguns”, em referência velada a Moraes e outros adversários políticos.

A fala de Bolsonaro, improvisada e repleta de tom emocional, foi interpretada por analistas como uma estratégia para manter mobilizada sua base de apoio em um momento de fragilidade jurídica. Sem apresentar fatos novos que contestassem as acusações, o discurso serviu mais como um apelo político do que como uma defesa técnica – esta última, segundo ele, ficará a cargo de seus advogados na ação penal que agora enfrentará no STF. Enquanto o processo avança, com possibilidade de julgamento ainda em 2025, o ex-presidente parece apostar na pressão pública e em projetos como o da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro para tentar reverter seu isolamento político e jurídico.