Ano de lançamento: 2010
Elenco: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Sérgio Ricardo, Roberto Carlos, Os Mutantes
Produtor: João Moreira Salles, Mauricio Andrade Ramos
Diretores: Renato Terra, Ricardo Calil
Empresa responsável: Videofilmes
País de origem: Brasil
“Uma Noite em 67” é um documentário brasileiro lançado em 2010 que captura um dos momentos mais emblemáticos da música popular brasileira: a final do III Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record em 21 de outubro de 1967. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, o filme utiliza imagens de arquivo da emissora e depoimentos recentes de artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso para reconstituir essa noite histórica. O evento, que reuniu grandes nomes da MPB em um contexto de efervescência cultural e política, é apresentado como um divisor de águas na história da música nacional.
O tema central do documentário revolve em torno da tensão entre arte e política em um período de ditadura militar no Brasil. A final do festival reflete os embates entre diferentes correntes musicais: de um lado, a tradição representada por Chico Buarque e Edu Lobo; de outro, a inovação tropicalista de Gilberto Gil e Caetano Veloso, acompanhados pelos Mutantes. Esses conflitos artísticos espelham as divisões sociais e ideológicas da época, com o público e os jurados divididos entre vaias e aplausos, culminando em momentos de alta carga emocional.
O filme acompanha a competição que teve como destaque a vitória de “Ponteio”, de Edu Lobo e Marília Medalha, mas também o famoso episódio em que Sérgio Ricardo, frustrado com as vaias a “Beto Bom de Bola”, quebrou seu violão e o atirou à plateia. Roberto Carlos, com “Maria, Carnaval e Cinzas”, também marcou presença, representando o pop da Jovem Guarda. Através de uma montagem ágil, o documentário intercala imagens originais com reflexões atuais dos artistas, oferecendo uma visão nostálgica e crítica daquele 67.
“Uma Noite em 67” revela um trabalho cuidadoso na preservação da memória cultural brasileira. Os diretores optam por deixar as imagens de arquivo falarem por si, com suas cores desbotadas e energia crua, enquanto os depoimentos adicionam camadas de interpretação. O filme não apenas documenta o festival, mas também explora como ele simbolizou um choque geracional e estético, com a ascensão do Tropicalismo desafiando as normas estabelecidas da MPB tradicional.
O documentário foi o mais visto no Brasil em 2010, com 51 mil espectadores em apenas cinco semanas, arrecadando R$ 475 mil em bilheteria. Outro fato interessante é que as imagens originais da TV Record, guardadas por décadas, foram restauradas especialmente para o filme, um esforço da Videofilmes que resgatou um material quase perdido. Além disso, a quebra do violão por Sérgio Ricardo tornou-se um símbolo de resistência e frustração, frequentemente lembrado como um dos atos mais icônicos da história dos festivais.
A produção também chama atenção pela escolha de não recriar cenas, confiando exclusivamente no material de arquivo e nas vozes dos protagonistas. Isso confere autenticidade ao documentário, mas também limita sua duração a 85 minutos, focando apenas na noite do festival sem explorar o antes ou depois em profundidade. A trilha sonora, composta pelas canções apresentadas na competição, é um deleite à parte, trazendo clássicos que continuam vivos no imaginário brasileiro.
Um registro histórico de um Brasil em transformação, onde a música era ao mesmo tempo refúgio e campo de batalha. Ele foi exibido em festivais internacionais, como o Festival de Cinema do Rio, e recebeu elogios por sua capacidade de emocionar e informar. Críticos destacaram a habilidade dos diretores em equilibrar nostalgia e análise, sem cair em idealizações excessivas do passado.
“Uma Noite em 67” é um testemunho da força da arte em tempos de repressão e mudança. Ao revisitar aquela noite memorável, o filme convida o público a refletir sobre o papel da música como espelho de uma sociedade em crise e celebra o legado de artistas que moldaram a identidade cultural brasileira. Seja pelo valor histórico, pela emoção das performances ou pela riqueza dos bastidores, é uma obra que ressoa até hoje.
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